CARLA FERREIRA E RUI FERREIRA EM ENTREVISTA À FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE HÓQUEI

Carla Ferreira e Rui Ferreira em entrevista à
Federação Portuguesa de Hóquei

 
     Carla Ferreira e Rui Ferreira são duas caras bem conhecidas da equipa do Grupo Desportivo do Viso. Para além de serem um casal e de ambos fazerem parte da estrutura do clube, partilham ainda mais uma característica: ambos integram a Guarda Nacional Republicana, enquanto Cabo e Capitão, respetivamente.

     Tendo em conta a atual pandemia do novo coronavírus Covid-19, Carla e Rui são unânimes quanto  às enormes alterações registadas no seu dia-a-dia desde a fase inicial desta situação.

     Carla afirma que as rotinas alteraram-se por completo. Os passeios no parque e brincadeiras na rua com a minha filha, as idas ao ginásio, as corridas diárias à beira-mar, o lanche com as amigas entre outros comportamentos ficaram em stand by. Foi como se tivesse que confinar as minhas rotinas às paredes de minha casa. Rui acrescenta que das coisas que no início foi mais difícil habituar-me foi manter um maior distanciamento social e evitar os cumprimentos que implicam contacto físico e que foram necessárias alternativas improvisadas para treinar de forma diferente e para dar alguma ajuda às minhas atletas para se manterem ativas nesta altura difícil.

     Questionados quanto à forma como é desempenhar a sua atividade profissional nesta fase, o Capitão da GNR garante que é com orgulho que visto diariamente a farda da Guarda Nacional Republicana e quando escolhi ser militar da GNR foi para poder ajudar os que mais precisam, quando mais precisam (...) Não sinto que esteja a fazer nada mais além daquilo que sempre fiz.. Carla considera-se preparada para cumprir o seu dever e partilha da opinião do marido, porém, quando sabe que este ou aquele camarada se encontra infetado ou em isolamento profilático, sou assombrada por um sentimento de receio. Contudo, penso sempre que não podemos ‘baixar a guarda’, porque as demais entidades, bem como a população em geral, necessitam de nós.

     Quando chegam a casa, após mais um dia de trabalho, a atleta do GD Viso regressa com um sentimento de que faço o que há 13 anos me comprometi a fazer ‘mesmo com o sacrifício da própria vida’. Contudo, quando chego a casa, a sensação de choque, vazio, angústia e saudade, entre outros, está lá”. Para o treinador da equipa do Viso e Team Manager da seleção nacional, também o sentimento de dever cumprido prevalece, mas considera que ao contrário do que algumas pessoas dizem, não acho que haja heróis nesta guerra. Na minha opinião,  todos os que estão a fazer o que lhes é imposto devem estar orgulhosos. Esta guerra não vai ser ganha só pelos médicos, enfermeiros ou forças de segurança, a vitória só irá surgir se estivermos todos juntos, cada um a dar o melhor de si”.

     Com o intuito de não sobrecarregar o pensamento com a atual situação, Carla defende que a dedicação ao treino em casa, às tarefas domésticas, a esta ou aquela bricolage que queiramos fazer, entre outras coisas, podem sempre manter-nos a mente ocupada. Em suma, nestes tempos, temos de levar um dia de cada vez”.

     Tal como relataram, os perigos da profissão são uma constante nas suas vidas. Esta pandemia veio acrescentar um enorme constrangimento, o de poder afetar também a filha de dois anos que têm em comum. Desde o começo que a solução passou por colocar a nossa filha junto dos avós paternos em Chaves. Na altura, pareceu-nos o mais correto, por uma questão de proteção. Passou um mês. Um mês que não estamos com ela, nem temos a menor ideia de quando a vamos poder abraçar. Foi esta a forma que arranjámos para contornar estas mudanças. Não foi a forma mais fácil, mas foi a forma de garantir a segurança dela, para que assim possamos continuar a trabalhar”. Para o pai da menina, que vê o facto de poder continuar em contacto com a sua esposa um elemento de felicidade, a dificil decisão que tiveram de tomar revelou-se uma mais valia, visto que cada vez que falo com ela e a vejo pelo WhatsApp sei que fizemos o correto e sei que ela está bem. Se soubermos que aqueles que amamos estão bem é muito mais fácil para nós podermos trabalhar de cabeça fria e darmos o nosso melhor.

     Questionados quanto ao comportamento da sociedade portuguesa e das medidas tomadas pelas autoridades competentes, o Capitão da GNR prontamente afirma que relativamente às medidas, na minha opinião, acho que foram atempadas e ajustadas às variações de contextos que fomos vivendo. Quanto ao comportamento dos portugueses, existe de tudo. Temos os que cumprem tudo, os que cumprem algumas coisas e os que tentam não cumprir nada, mas isto faz parte da natureza humana e não existem sociedades perfeitas.

     A Cabo Ferreira considera que as medidas tomadas foram sendo ajustadas face ao comportamento dos portugueses, mas que infelizmente, não houve por parte da maioria dos portugueses os melhores dos comportamentos. Porém, quando começaram as mortes e o aumento de internamento nos cuidados intensivos, começou a decrescer o número de pessoas na rua, portanto o choque fez com que os portugueses se precavessem.

     Abordando a questão da paragem da nossa modalidade, a jogadora do Grupo Desportivo do Viso admite que já sente falta e saudades do treino e da competição: O hóquei na minha vida serve como um escape dos dias menos bons. O hóquei deu-me a conhecer pessoas incríveis, já me fez chorar de tristeza e também de alegria, sendo claro que o balanço é muito positivo. Assim sendo, e como atleta, as saudades da família hoquista são mais que muitas. A competitividade quando bem utilizada, que é o caso, só nos faz crescer, como atletas mas também como seres humanos. É inerente.

     O treinador da equipa levanta duas questões: “Como não poderia sentir saudades do hóquei? Como é possível não se sentir saudades de uma coisa que amamos?”. Rui afirma que para esta época existiam muitos planos e ambições. O facto de não saber quando irá poder voltar a esta sua paixão é bastante custoso, tal como sentir falta dos treinos, da competição, dos amigos e da família do hóquei. Em suma, “não é fácil não podermos fazer coisas que adoramos fazer.

     A normalidade terá nalgum momento de ser restabelecida e, quanto à primeira coisa que ambos pensam em fazer quando esse momento chegar, a direção é apenas uma: a minha filha.

     Rui e Carla, muito obrigado pelo vosso serviço!

YOUTUBE

youtube fph banner