À CONVERSA COM O SELECIONADOR BERNARDO FERNANDES

À conversa com o Selecionador Nacional Bernardo Fernandes sobre a atual situação
do Covid-19 e o seu impacto no hóquei

 
     Bernardo Fernandes, treinador da equipa alemã Club zur Vahr Bremen - Hockey e Selecionador Nacional, aceitou prestar algumas palavras à Federação Portuguesa de Hóquei relativamente à atual situação pandémica que se vive por todo o mundo e o seu impacto no hóquei.

     Bernardo começa por revelar que as maiores diferenças que sente no seu dia-a-dia são precisamente a falta do hóquei e da interação social, nomeadamente com os seus amigos, staff do clube e os próprios jogadores. Revela ser bastante complicado “passar de estar seis dias por semana no campo com diferentes equipas para inatividade total”. Com uma clara alteração na sua vida entre o pré quarentena e o durante, o selecionador, que no início do ano civil conduziu a seleção Senior Masculina à medalha de bronze no Europeu da Suíça, declara tentar ocupar-se durante o dia com assuntos relacionados ao hóquei e “manter a maioria das rotinas que tinha antes do período de quarentena, no que diz respeito à alimentação e sono”.

     À semelhança do que aconteceu com outras modalidades, também para o hóquei foi imperativo haver uma paragem. Questionado quanto à forma como a mesma poderá regressar, a esperança é de um “retorno progressivo e com o mínimo de risco possível”, apesar de não saber se esta poderá retornar de forma natural nas próximas semanas.

     Abordando a realidade alemã, o campeonato encontra-se suspenso, contudo, “as autoridades irão pronunciar-se brevemente com uma decisão concreta, mas já estabeleceram o fim-de-semana de 9 e 10 de maio como o limite de recomeço da liga”. A esperança recai essencialmente numa decisão que permita o recomeço da liga, dado a sua equipa ter terminado a primeira volta na “pole position para atacar a subida de divisão”.
     Através do contacto quase diário com os seus jogadores, o português admite que o sentimento dominante é de “vontade e saudades”, não tendo receio de um possível retrocesso. Pelo contrário, “acho que toda a gente está com saudades e com uma vontade enorme de voltar a treinar, jogar e passar tempo com os seus colegas de equipa!”.

     Dado o cenário atual, o hóquei regista uma maior envolvência no meio digital, nomeadamente através de uma maior presença nas redes sociais e na realização de cursos, webinars e workshops. Quanto a uma possível manutenção deste tipo de aproximação digital no futuro, Bernardo diz ser “difícil responder”. Estas iniciativas vão “depender do sucesso que algumas destas pessoas/organizações tiverem durante este período e se esse sucesso trouxer motivações ou outras oportunidades, nomeadamente retorno financeiro”. Afirma ainda que “quanto mais buzz e projetos existirem, melhor para todos, desde que dentro do fair play e sendo originais.

     Bernardo Fernandes esteve recentemente envolvido no primeiro curso online da Federação Internacional de Hóquei para a obtenção do Grau de Treinador Nível I. Recorrer às novas tecnologias para dar este tipo de formação parece-lhe ser a solução ideal, mas “dificilmente aplicável para os níveis superiores onde existe uma maior complexidade de análise e necessidade de demonstração de algumas matérias táticas e técnicas”.
     A principal vantagem é, segundo o Selecionador Nacional, “a acessibilidade muito mais facilitada a um curso que não dispensa viagens, estadias e tudo isto a um custo muito mais acessível”.
     No entanto, a falta de interação com os educadores e restantes participantes é uma das principais barreiras. “O facto de não podermos exemplificar algumas situações técnicas, ainda que remotamente, dentro de um campo de hóqueibem como a dificuldade de “avaliar certos aspetos sociais e comportamentais dos treinadores participantes” são também algumas das dificuldades na formação de novos treinadores.

     Interrogado em relação a uma possível continuidade, por parte da Federação Internacional de Hóquei (FIH) e da Federação Europeia de Hóquei (EHF), na realização de webinars e cursos online com vista a potenciar a modalidade, o nosso selecionador afirma ter a certeza que sim, que é para continuar: “Tivemos uma avaliação que realizamos em conjunto não só com os treinadores participantes mas também com alguns elementos observadores da FIH e o Feedback foi esmagadoramente positivo. Nesse sentido, e porque esta é uma ferramenta tão efectiva para educar treinadores em todo o mundo, sei que a EHF e a FIH não vão deixar escapar esta oportunidade”.

     Para finalizar, Bernardo Fernandes deixa uma mensagem para a comunidade hoquista em Portugal: “Façam o esforço de esperar o tempo necessário, com a paciência que se exige, até as condições de saúde e segurança estarem reunidas para voltarem a fazer uma das coisas de que mais gostamos na vida, jogar hóquei.”.
     Ainda que defenda que a situação no nosso país não é tão grave como noutras partes do mundo, considera necessário “usar a formação e experiência que o nosso desporto em equipa nos deu, e se for preciso ‘sacrificar’ um pouco do nosso bem estar individual por um bem coletivo maior”.

     “Por muito que custe, e custa, o hóquei, a praia, o café e o restaurante podem esperar, uma vida que se perde, seja ela velha ou nova, já não se pode recuperar… Mas a nossa comunidade hoquista em Portugal é persistente, combativa e apaixonada, portanto só posso enviar um abraço com a certeza que se todos fizermos o devido, o hóquei e a vida vão voltar ao normal”, são as palavras finais de Bernardo.

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